Amor que é casa
não arromba portas, não grita ao vento.
Ele pousa.
Como semente que conhece o terreno,
como árvore que enraíza sem pedir licença.
É o cheiro do café que abraça a manhã,
o riso que preenche os cômodos vazios da casa,
o toque que nada exige,
mas que tudo oferece.
O amor não é tempestade que assusta,
nem fogo que consome o campo.
É chuva mansa,
é chama que aquece sem se apagar.
Amar é ver a vida despida,
sem artifícios ou máscaras.
É o jeito como os olhos encontram repouso,
como as mãos falam o que a voz silencia.
E quando o amor chega,
não há anúncio,
não há trombetas.
Há apenas o instante,
aquele em que o coração sabe:
“Cheguei em casa.”
Amar é fazer do outro o abrigo,
é ser cais e tempestade,
é morar na paz de um olhar
e no desassossego de um querer eterno.
Não é prisão,
mas voo.
Não é espera,
mas agora.
O amor é a eternidade disfarçada de instante,
o milagre do encontro
que transforma dois mundos
em uma constelação.
E ainda que o tempo tente levar,
ainda que as mãos se soltem,
o que é amor de verdade
nunca deixa de caber na gente.
Que te caiba sempre,
como o vento cabe no céu,
como a vida cabe na simplicidade
de ser vivida ao lado de quem nos olha
e sorri com a alma inteira.
— Antônio Reis