Queria não te amar tanto

Eu te amo,
mas é um amor que dói sem permissão,
um silêncio que ecoa nas cavernas do peito,
um grito afogado que jamais verá a luz.
É como amar a sombra da lua sobre o mar,
sempre próxima, sempre longe,
uma miragem que meus olhos desejam
e minhas mãos nunca tocarão.

Se eu pudesse arrancar-te de mim,
como quem desata um nó.
Mas tu és mais que um nó,
és a corda que me aperta a garganta,
o ar que me falta,
a ferida que lateja no escuro das noites.
Teu nome é meu cântico e meu castigo,
teu rosto é o altar onde meus sonhos se ajoelham
e onde minha esperança é imolada
a cada nascer do sol.

Amo-te.
Amo-te como quem ama o impossível,
como quem se ajoelha diante de uma estrela
sabendo que jamais a alcançará.
É uma devoção que me fere,
uma fé que me consome,
uma febre que não tem cura.

Eu me perco em fantasias,
nos recantos do sono onde tu és meu,
onde teu olhar é um porto
e tua voz um abrigo.
Te imagino vindo até mim,
com os braços abertos e o coração descalço,
me chamando para uma dança que nunca termina.
E por um instante, nesse sonho dourado,
sou teu.
Tu és meu.
E tudo faz sentido.

Ao despertar…
A realidade cai sobre mim como um açoite.
E a cama vazia é um espelho
onde vejo minha solidão nua.
Teu rosto se dissolve no ar,
e eu volto ao meu cárcere,
ao exílio de amar-te sem retorno.
Meu amor é uma estrada sem fim,
uma canção sem ouvidos,
uma chama acesa no escuro
de uma casa onde ninguém mora.

Que sina a minha,
amar-te assim,
com essa sede que só cresce,
com esse peito que só sangra!
Queria te dizer o quanto sofro,
mas as palavras morreriam na tua indiferença.
E o que seria pior do que isso?
Pior do que tua ausência,
só tua piedade!

Então eu calo.
Enterro meu amor nas profundezas do meu ser,
onde ninguém pode vê-lo,
onde ninguém pode zombar.
Mas ele pulsa, como uma estrela enterrada,
como um segredo que me consome por dentro.

Eu te amo.
E esse amor é a minha cruz,
o meu destino.
Vou carregar-te comigo até o fim,
como quem carrega uma tempestade no peito.
E talvez, um dia,
quando o tempo for pó
e meu nome for esquecimento,
tu percebas,
num instante breve e perdido,
que foste amado como ninguém mais será.

E talvez, só talvez,
nesse momento,
tu lamentes…
Mas será tarde.
E eu, enfim, serei livre.

— Antônio Reis

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