Diz-me que me amas
Diz-me que me amas,
mas não apenas com a boca.
Diz-me com os olhos,
com a carne,
com o silêncio que paira
entre o teu respirar e o meu.
Porque palavras soltas
não bastam para costurar
as feridas que carrego.
Eu já ouvi tantas,
e todas eram folhas secas,
voando sem rumo no vento.
Diz-me,
mas que tua voz seja como água.
Deixa-a escorrer pela minha pele
como rio que lava o corpo cansado
da poeira dos dias.
Deixa teu “eu te amo”
ser uma raiz
que se atreve a fincar-se
no chão incerto da minha alma.
Diz-me de um jeito que eu sinta.
Diz-me com ternura bruta,
e faz do amor arma carregada
pois sei que tu carregas no peito o poder
de cada palavra disparada.
Diz-me de novo,
mas não como um hábito.
Diz-me outra vez,
e faz das tuas palavras
remendo para minha alma ferida.
Porque eu não sou castelo,
sou ruína.
Eu não acredito,
mas, Deus, como eu quero!
Quero acreditar que desta vez
o amor não é só uma sombra
dançando na parede.
Que ele tem peso,
tem cheiro,
tem corpo.
E se tu me amas,
então diz.
Diz-me que me amas
com a coragem de quem sabe
que o amor é tanto faca quanto flor.
Não poupes, não hesites.
Deixa tua verdade ser vinho
na taça quebrada do meu peito.
Se tu verdadeiramente me amas,
ama-me como o vento ama as árvores,
despenteando suas folhas
e deixando-as mais vivas.
Diz-me, então,
não uma vez, mas mil,
para que tua voz construa pontes
onde há abismos.
Conta-me como me amas,
porque no fundo eu quero acreditar.
No fundo, o amor verdadeiro
é a única coisa que jamais deveria
precisar de tantas provas.
Mas, ainda assim,
diz-me outra vez.
E ama-me,
mas que seja um amor
que não teme as tempestades,
que não tem medo
de desmanchar castelos de areia.
Ama-me como se teu amor fosse rio,
e eu, pedra.
Ama-me, e que teu amor
seja luz em um farol,
mostrando que ainda há um porto
para este barco perdido
que sou.
Eu já segurei nas mãos corações quebrados
que estilhaçaram os meus dedos.
Eu já vivi amores que eram naufrágios,
falsas promessas de terra firme,
quando tudo o que havia era mar revolto.
Amores que eram promessas de auroras,
mas que só entregaram a noite fria.
Por isso, cuida de mim.
Cuida deste coração que agora
te entrego com as mãos trêmulas.
E diz. Diz mais uma vez.
Diz como se tua voz pudesse
escrever uma nova história
nas cicatrizes do meu peito.
— Antônio Reis